O
POETA-OPERÁRIO
Vladimir
Maiakovski (1893-1930)
Tradução de Emílio Carrera Guerra
Grita-se
ao poeta:
“Queria
te ver numa fábrica!
O
quê? Versos? Pura bobagem!
Para
trabalhar não tens coragem.”
Talvez
ninguém
como nós
ponha
tanto coração
no
trabalho.
Eu
sou uma fábrica.
E se
chaminés
me
faltam
talvez
sem
chaminés
seja
preciso
ainda
mais coragem.
Sei.
Frases
vazias não agradam.
Quando
serrais madeira
é
para fazer lenha.
E
nós que somos
senão
entalhadores a esculpir
a
tora da cabeça humana?
Certamente
que a pesca
é
coisa respeitável.
Atira-se
a rede e quem sabe?
Pega-se
um esturjão!
Mas
o trabalho do poeta
é
muito mais difícil.
Pescamos
gente viva e não peixes.
Penoso
é trabalhar nos altos-fornos
onde
se tempera o ferro em brasa.
Mas
pode alguém
acusar-nos
de ociosos?
Nós
polimos as almas
com
a lixa do verso.
Quem
vale mais:
o
poeta ou o técnico
que
produz comodidades?
Ambos!
Os
corações também são motores.
A
alma é poderosa força motriz.
Somos
iguais.
Camaradas
dentro da massa operária.
Proletários
do corpo e do espírito.
Somente
unidos,
somente
juntos remoçaremos o mundo,
fá-lo-emos
marchar num ritmo célere.
Diante
da vaga de palavras
levantemos
um dique!
Mãos
à obra!
O
trabalho é vivo e novo!
Com
os aradores vazios, fora!
Moinho
com eles!
Com
a água de seus discursos
que
façam mover-se a mó!
(1918)
In: MAIACOVSKI,
Vladímir. Antologia Poética. Estudo biográfico e tradução
de E. Carrera Guerra. 2. ed. Rio de Janeiro: Leitura, [ca. 1965]. p.
146-147.
Vladimir V. Maiakovski (1893-1930), artista e revolucionário, foi um dos principais nomes da literatura russa no século XX. Mais sobre ele aqui:
Santarém, PA, 18/7/2017. Leia e curta também no Wordpress.
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