terça-feira, 29 de novembro de 2016

A Cadela de Buchenwald [poema de Julius Balbin]

A CADELA DE BUCHENWALD
OU
RÉQUIEM PARA A PELE
(La Hundulino de Buchenwald aŭ Rekviemo por la Haŭto)
Julius Balbin
Traduzido do esperanto por Júlio César Pedrosa
Rasgada e cheia de cicatrizes das pancadas
e contraída pela fome,
coberta apenas por uma
fétida
camisa
listrada
esfarrapada,
tu eras mais do que somente pele:
eras um brinquedo –
objeto de exibição
para uma curiosidade mórbida.
De todos os demônios
dos infernos de Hitler,
Frau* Ilse Koch,
a vadia de Buchenwald*,
parecia apreciar-te a ti no mais alto grau;
e, particularmente, àqueles entre vós
a portar tatuagens,
que provocavam nela
um espasmo
de ideias vibrantes
de algum desenho
para seus abajures.
Certa vez
ela arranjou uma festa
para comemorar
sua nova exposição.
A mais admirada
pelos membros da SS e pelos guardas
eras tu
tão coloridamente tatuada
com as palavras
HAENSEL UND GRETEL*
brilhando acima da lâmpada.
Sim, pele,
os comentários
e olhares elogiosos deles
teriam sido mais podres
do que tu,
se tu tivesses apodrecido
na terra infestada de vermes.
Requiescat in pacem*,
pele,
as orgias dos bárbaros
acabaram.
1982
BALBIN, Julius. La Hundulino de Buchenwald aŭ Rekviemo por la Haŭto. In: Imperio de l’ Koroj: Du Poemaroj. Pizo, Italujo [Pisa, Itália]: Edistudio, 1989. p. 197-198.

Notas:
1- Frau – Em alemão no original: “senhora”.
2- Buchenwald – Campo de concentração nas proximidades de Weimar, estado da Turíngia (Thüringen), Alemanha.
3- Hansel und Gretel – Nomes alemães dos personagens João e Maria, respectivamente, da fábula de mesmo nome, recolhida e difundida pelos irmãos Grimm.
4- Requiescat in pacem – Em latim no original: “Descansa em paz”; é a origem da abreviação RIP.
O autor:
Julius Balbin (1917-2006) nasceu em Cracóvia, Polônia, no seio de uma família judia. Foi preso pelos alemães e passou por vários campos de concentração. Após o fim da II Guerra Mundial estudou em Viena, Áustria, e emigrou em 1951 para os Estados Unidos da América, onde por muitos anos foi professor universitário, retornando à Europa em 2005. Faleceu em Aye, Bélgica. Publicou vários livros de poemas em esperanto, inglês e polonês.
Um artigo de Julius Balbin (em inglês): “The Secret Malady of Esperanto Poetry” (1973).

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