segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Caça-fantasmas em Santarém

Você acredita em fantasmas e aparições? Em almas penadas e assombrações?

Muita gente hoje, em pleno século XXI, ainda crê na existência desses seres sobrenaturais. Há gente que nunca os viu, mas crê que eles existem, pois conhece outras pessoas – fidedignas, assegura-se – que viram uma mula-sem-cabeça ou toparam com uma noiva-cadáver nas proximidades de um cemitério, numa noite escura.

Uma pessoa me contou que, certa vez, um parente seu foi perseguido por um lobisomem numa estrada rural. Ele conseguiu escapar; mas enquanto corria em desabalada carreira, ouvia os uivos distantes do lobo humano e, ao mesmo tempo, sentia seu fungado no cangote...

Também aqui na cidade de Santarém, no Pará – onde as assombrações são mais comumente chamadas visagens – não era diferente há cem ou mais anos.

Numa crônica chamada "Garimpando ao Léu", publicada no número 1.287 (29/4/1967) do extinto periódico O Jornal de Santarém e recolhida pelo maestro Wilson “Isoca” Fonseca em sua coletânea Meu Baú Mocorongo, o historiador santareno Paulo Rodrigues dos Santos (1890-1974) diz que em outros tempos a cidade de Santarém era “infestada de fantasmas e assombrações de toda espécie: - curupiras, matintapereras, lobisomens, botos, lêmures, trasgos e outras coisas”, havendo inclusive muitas casas “mal assombradas”, que perturbavam os mais supersticiosos.

Mas vejamos o que ele conta sobre um dos fantasmas que noutros tempos assombravam a cidade de Santarém (o cronista não precisa a data, mas o fato deve ter ocorrido entre o fim do século XIX e início do XX):

“Pelas imediações da chamada Rua Nova ou Rua de Cima* [atual Avenida Rui Barbosa] que passava pela frente do atual cemitério [de Nossa Senhora dos Mártires], surgiam vez por outra uns fantasmas de camisolão branco que davam carreiras nos transeuntes retardatários. Esses faziam campo das suas diabruras às proximidades de barracas ocupadas por algumas bonitas mulatinhas solteiras ou casadas, que, aliás, ao que parecia, não temiam a alma do outro mundo e até lhe davam “teco”...
Certo dia ou certa noite, alguns rapazes resolveram apanhar vivo o fantasma do camisolão. Prepararam sigilosamente o cerco e o apanharam com a boca na botija.
Ao ver-se rodeado de ameaçadores cacetes e chicotes, o fantasma se deu a conhecer: – era o delegado de polícia, naqueles tempos intitulado “prefeito de polícia”!...
Com um sorriso amarelo alegou que fora uma coincidência, pois ele também se disfarçara de camisolão para ver se apanhava o verdadeiro fantasma...
O policial livrou-se da surra, mas não se livrou da chacota popular. Ninguém acreditou na sua história.”
SANTOS, Paulo Rodrigues dos. Garimpando ao Léu. In: FONSECA, Wilson Dias da. Meu Baú Mocorongo. Belém (Pará): Secult; Seduc, 2006. 6 v. V. 5, pp. 1343-1344.

* Nota: Atualmente, o Cemitério de Nossa Senhora dos Mártires, o mais antigo da cidade, tem frente para a Avenida São Sebastião, que no início se chamou Rua Novo Mundo. De acordo com Wilde Dias da Fonseca (Santarém: Logradouros Públicos. Santarém (PA): Instituto Cultural Boanerges Sena, 2007. p. 11-12), o logradouro conhecido, à época do fato aqui narrado, como Rua Nova ou Rua de Cima era a atual Avenida Rui Barbosa, não a Avenida São Sebastião. Como se explica isto? Segundo o mesmo Wilde Fonseca, para a abertura da futura Avenida São Sebastião foi preciso recuar a parte da frente do cemitério, que perdeu parte de sua área original; isto quer dizer que a frente do cemitério era bem mais próxima da Avenida Rui Barbosa.

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