sábado, 25 de julho de 2015

Democracia e autoritarismo: o caso do Uber

Os recentes incidentes ocorridos em cidades brasileiras, envolvendo usuários ou prestadores do serviço de transporte individual Uber e taxistas, demonstram o quanto ainda estamos atrasados no caminho que conduz a uma sociedade verdadeiramente democrática – não apenas no papel, mas de fato.

Em seu clássico – e sempre atual – Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda diz que “A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido” (26. ed. 9. impr. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 160). Teria ele dito isso como constatação de não estarmos prontos para ela ainda na década de 1930? (Não se pense por isso que o pai do Chico fosse contra a democracia… au contraire!)

O fato, porém, é que podemos – tosca e grosseiramente, reconheço – distinguir da seguinte maneira a democracia do autoritarismo: enquanto este levanta muros a impedir os movimentos do cidadão, a democracia abre caminhos e portas, cabendo ao cidadão escolher se irá ou não seguir tais caminhos ou passar por tais portas, sem que o Estado ou outrem lhe “dite” (daí a origem do termo ditadura) o que fazer, mas ficando esse mesmo cidadão responsável por seus atos, suas escolhas.

Não sei se algum dia serei usuário do aplicativo Uber; acho que prefiro os serviços de um taxista conhecido e de confiança.

Mas não posso ser contrário a esse serviço; considerando-se os problemas de locomoção enfrentados por nossa população em todo o país, proibir uma iniciativa de transporte que já teve sucesso em outros países é um passo para trás.

Muitas pessoas não possuem carro e não desejam tê-lo (é o meu caso), mas também querem algo além do péssimo transporte coletivo de que dispomos, e o Uber é mais uma opção. Por que não permiti-lo e regulamentá-lo?

Ao proibi-lo, com o agravante de não permitir discussão pública sobre o assunto, nossas administrações municipais dão mostras de agir autoritariamente, atendendo a interesses cartoriais, corporativos e não visando à coisa pública.

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