sexta-feira, 31 de julho de 2015

Falta de pauta… ou “pauta” do que fazer

Pergunta um repórter a um desabrigado das enchentes recentemente ocorridas no Rio Grande do Sul:

“O senhor tem saudade da sua casa?”

Pelo fantasma de César! Isto é pergunta que se faça? É falta de assunto?

Quando me lembro de que a imprensa brasileira já teve em seus quadros gente como Euclides da Cunha e Nelson Rodrigues…

Sonho de uns, pesadelo de outros

Quase todo dia ouço ou leio em algum lugar coisas como:

“Acredite em você mesmo! Acredite nos seus sonhos! Corra atrás deles, você merece realizá-los!” Blá blá blá, nhenhenhém etc.

Eis o mantra de nosso tempo… e uma de nossas maiores falácias!

Vamos cair na real! O povo acha mesmo que todo o mundo tem o direito de realizar tudo aquilo que deseja? Que todos podem fazer aquilo que lhes dá no bestunto?

Alguém já imaginou como seria se um indivíduo chamado Adolf Hitler tivesse acreditado mais em si mesmo e perseguido com mais afinco seu “sonho”? Já imaginaram o estrago, o pesadelo que seria isso?

Nem tudo se deve realizar, nem todos os desejos devem ser satisfeitos.

Antes de partir para a empreitada de realizar seus “sonhos”, verifique se isso é conveniente para você mesmo… e principalmente para seus vizinhos.

sábado, 25 de julho de 2015

Democracia e autoritarismo: o caso do Uber

Os recentes incidentes ocorridos em cidades brasileiras, envolvendo usuários ou prestadores do serviço de transporte individual Uber e taxistas, demonstram o quanto ainda estamos atrasados no caminho que conduz a uma sociedade verdadeiramente democrática – não apenas no papel, mas de fato.

Em seu clássico – e sempre atual – Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda diz que “A democracia no Brasil sempre foi um lamentável mal-entendido” (26. ed. 9. impr. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p. 160). Teria ele dito isso como constatação de não estarmos prontos para ela ainda na década de 1930? (Não se pense por isso que o pai do Chico fosse contra a democracia… au contraire!)

O fato, porém, é que podemos – tosca e grosseiramente, reconheço – distinguir da seguinte maneira a democracia do autoritarismo: enquanto este levanta muros a impedir os movimentos do cidadão, a democracia abre caminhos e portas, cabendo ao cidadão escolher se irá ou não seguir tais caminhos ou passar por tais portas, sem que o Estado ou outrem lhe “dite” (daí a origem do termo ditadura) o que fazer, mas ficando esse mesmo cidadão responsável por seus atos, suas escolhas.

Não sei se algum dia serei usuário do aplicativo Uber; acho que prefiro os serviços de um taxista conhecido e de confiança.

Mas não posso ser contrário a esse serviço; considerando-se os problemas de locomoção enfrentados por nossa população em todo o país, proibir uma iniciativa de transporte que já teve sucesso em outros países é um passo para trás.

Muitas pessoas não possuem carro e não desejam tê-lo (é o meu caso), mas também querem algo além do péssimo transporte coletivo de que dispomos, e o Uber é mais uma opção. Por que não permiti-lo e regulamentá-lo?

Ao proibi-lo, com o agravante de não permitir discussão pública sobre o assunto, nossas administrações municipais dão mostras de agir autoritariamente, atendendo a interesses cartoriais, corporativos e não visando à coisa pública.