Julius Balbin (Fonte: http://miresperanto.com/en/articles/strangled_cries.htm)
NOSSA ÚNICA POSSE (Nia Sola Posedaĵo)
Julius Balbin (1917-2006)
Traduzido do esperanto por Júlio César Pedrosa.
No
gueto
onde
ainda
era
possível
fazer
amor
eu
a encontrei.
Ambos
tínhamos dezesseis anos
e
nos envergonhávamos
De
nossos corpos nus.
Tomando
um ao outro pelas mãos
Abraçávamo-nos
timidamente.
No
campo de concentração
fomos
separados
pelo
arame farpado
mas
nosso ardor
ignorava
barreiras.
Os
holofotes
das
torres de guarda
espionavam
a escuridão
enquanto
eu rastejava
na
direção das barracas das mulheres
por
sob os arames
e
me contorcia
entre
vida e morte.
Eu
alcançava a porta,
abria-a
e
furtivamente deslizava
até
onde o sussurro de minha amada
me
guiava, à cama de cima,
Onde
nua ela esperava.
O
pesadelo da realidade
era
engolido
pelo
abismo
de
nosso abraço
e
nós íamos
ao
topo
de
tudo o que é humano
penetrando
um no outro.
As
mulheres à nossa volta
dormiam
suspirando ou roncando
enquanto
nós estávamos além de tudo,
contendo
nossas paixões
ou
silenciando nossos gemidos.
Amávamos
na
febre que nossos corpos
nunca
conheceram.
Não
possuíamos nada
além
de um ao outro.
Dividindo
esses momentos
nós
nos movíamos no ritmo
da
lua e das estrelas
que
brilhavam acima de nós
eternamente.
BALBIN, Julius. Nia Sola Posedaĵo. In: AULD, William. (Org.).
Esperanta Antologio: Poemoj. 1887-1981. Rotterdam: UEA, 1984, pp.
760-762.
Notas:
1- Julius Balbin (1917-2006) nasceu em Cracóvia, Polônia, no seio de uma família judia. Foi preso pelos alemães e passou por vários campos de concentração. Após o fim da II Guerra Mundial estudou em Viena, Áustria, e emigrou em 1951 para os Estados Unidos da América, onde por muitos anos foi professor universitário, retornando à Europa em 2005. Faleceu em Aye, Bélgica. Publicou vários livros de poemas em esperanto.
2- Sobre a tradução: No poema acima, o único sinal de pontuação usado pelo autor é o ponto (.). Acrescentei algumas vírgulas onde vi que elas eram necessárias, devido à estrutura de nossa língua e para não fugir ao sentido do texto original, deixando o restante do texto com a pontuação (ou a falta dela) original, o que, a meu ver, contribui para melhor apreender o clima do poema; creio que a falta de vírgulas é elemento significativo deste poema. O leitor compreenderá por si mesmo e dirá se tenho ou não razão.
3- Publico este texto traduzido no âmbito das celebrações ocorridas por ocasião dos 70 anos da libertação, por tropas soviéticas, do campo de concentração de Auschwitz (em polonês Oświęcim), Polônia, ocorrida em 27 de janeiro de 1945.
4- O texto original pode ser lido na página do atalho a seguir, acompanhado de traduções de J. E. Nagy em húngaro e romeno: http://www.ipernity.com/blog/199659/338252.
5- Mais sobre Julius Balbin:
Em inglês: "Strangled Cries: A profile of poet Julius Balbin" – Alexander Kharkovsky;
Em esperanto: "Julius Balbin" - Wikipedia.
6- Um artigo de Julius Balbin (em inglês): "The Secret Malady of Esperanto Poetry" (1973).
Santarém, Pará, 31/1/2015. Editado em 17/3/2015.
4- O texto original pode ser lido na página do atalho a seguir, acompanhado de traduções de J. E. Nagy em húngaro e romeno: http://www.ipernity.com/blog/199659/338252.
5- Mais sobre Julius Balbin:
Em inglês: "Strangled Cries: A profile of poet Julius Balbin" – Alexander Kharkovsky;
Em esperanto: "Julius Balbin" - Wikipedia.
6- Um artigo de Julius Balbin (em inglês): "The Secret Malady of Esperanto Poetry" (1973).
Santarém, Pará, 31/1/2015. Editado em 17/3/2015.
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