terça-feira, 23 de julho de 2013

Uma notinha sobre o Papa Francisco e a língua portuguesa

O Faustão, que todos os domingos enche a tela da TV brasileira, diz que o português não é língua, é código secreto... Pois bem: parece que os argentinos decifraram nosso código!
Não sou católico e não estou acompanhando a visita do papa Francisco ao Brasil, mas ouvi hoje no rádio um trecho do pronunciamento dele; a parte o sotaque, o bispo de Roma falou num português impecável, como há tempos não ouço uma autoridade falar no Brasil.
Não pensem que sou purista da língua; para mim isso é besteira: estudei linguística e tenho consciência das tensões entre conservação e mudança sofridas por toda e qualquer língua, além de conhecer um pouco as tendências de transformação do português (algumas dessas tendências são pan-românicas, ou seja, já vêm do latim e afetam também o francês, o espanhol, o italiano e as demais línguas neolatinas). Todas as línguas têm suas variantes regionais (dialetos, falares), sociais, profissionais, etárias etc., e uma língua-padrão ou culta, em que se redigem os textos oficiais, científicos... É assim também com o português.
Mas os agentes públicos brasileiros (eleitos por voto, escolhidos politicamente ou aprovados em concurso) têm a obrigação de dominar a língua oficial satisfatoriamente, a fim de expressar-se de modo objetivo, claro, cristalino (e, se possível, elegante), adequando-se às necessidades de comunicação com a sociedade e à necessidade de manter, com certa homogeneidade, a linguagem-padrão da administração e do Estado, o que é preciso, entre outras coisas, para o bom êxito do serviço público.
Assim como o código da máquina Enigma foi decifrado - para o bem dos Aliados na II Guerra -, nós já deciframos nossa língua; o de que precisamos é perder a vergonha dela.