sábado, 9 de março de 2024

A muralha

 

(Foto: Internet.)

Numa realidade alternativa, a cidade de Jericó, capital de um pequeno estado cananeu, resistiu bravamente ao cerco a que foi submetida por um povo invasor vindo do deserto.

As trombetas do inimigo troaram ensurdecedoramente; o esturro dos cães de guerra gelou o sangue da população sitiada; uma magia desconhecida pareceu tornar o dia em noite e a noite em dia... mas suas muralhas não ruíram. Jericó não caiu.

Milênios após esses eventos, arqueólogos e historiadores chegaram a consenso em pelo menos uma coisa: os restos encontrados naquele sítio arqueológico demonstram que houve ali uma batalha longa, feroz, encarniçada, em que os jericoenses venceram um invasor cuja identidade até hoje é desconhecida.

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Arrebatamento

(Foto: Internet.)

O melhor negócio no Brasil de hoje é abrir uma igreja, pois a isenção de tributos para as instituições religiosas só se amplia. Chegará o momento em que trabalharemos apenas para cobrir o rombo do orçamento nacional causado pela isenção de impostos das igrejas.
Isto parece inevitável.
E espero sinceramente que ocorra mesmo esse tal arrebatamento que os evangélicos estão esperando.
Será muito triste se, depois de uma vida inteira de oração, obedecendo ao pastor, lendo (somente) a Bíblia ( 🤔 ), privando-se de prazeres e pagando dízimo, os fiéis acabarem indo parar no mesmo lugar destinado às prostitutas, maconheiros, cachaceiros, LGBTs, jogadores de carteado e dominó, macumbeiros, leitores de Sade, fãs do Chico Buarque, padres, comunistas, professores, pornófilos, políticos, sibaritas, edonistas e outras figuras que os crentes julgam estar condenadas ao inferno...
Quem viver, verá.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Barba, cabelo e bigode

(Créditos da imagem: Robbie Coltrane no papel de Hagrid, Warner Bros Pictures/Harry Potter.)

Certo biólogo diz que jamais cortará os cabelos nem tirará a barba porque "cabelos cortados e barba raspada deixam o homem com cara de coxinha". Já outra intelectual, esta das humanidades, alude de forma jocosa a evento oficial do atual governo com a presença de "mauricinhos com cabelo penteado sem um fio fora do lugar".
Hmmmm...
Parece que é assim que alguns pensam que convencerão os adversários políticos para diminuir a polarização que, dizem eles, assola o País. Vejam como vai dando certo...
Sempre me considerei de centro-esquerda. Mas, a julgar pela avaliação que se faz de gente com minha aparência, creio que me põem ao lado dos camisas negras ou verdes dos anos 1930. Argh!
(E o horroroso Plínio Salgado tinha até bigode...)
Lembro-me de ter visto um documentário em que um dos entrevistados, italiano adepto da contracultura dos anos 1960, conta sua viagem com alguns "compagnons de route" à Albânia para conhecer o socialismo real. Assim que passaram pelo posto de guarda, os admiradores do regime de Enver Hoxha foram obrigados a cortar os cabelos e raspar a barba, pois, conforme a ideologia em vigor na Albânia de então, cabelos compridos e barba eram coisa de burguês.
E os pobres coitados achando que seus cabelos longos e ideias curtas estremeciam as bases do capitalismo!
Enquanto alguns pensam que podem mudar o mundo deixando a barba crescer e aposentando o pente, a extrema direita se recupera e afia a navalha para fazer serviço completo.
Deixemos de perder tempo com barba, cabelo e bigode e cuidemos de proteger o pescoço.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Ah, a riqueza da periferia...

Já decidi: na minha próxima encarnação quero nascer RICO! (RICA também serve. Ou RIQUE.) Não quero, porém, nascer rico nos EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Suécia… Não! Nada disso! Quero nascer rico no Brasil. É muito melhor.

Mas também não quero nascer numa família rica de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… Os ricos desses lugares têm muitas preocupações e chateações: são o tempo todo chamados a responder sobre a responsabilidade social de sua riqueza, precisam expor suas medidas de ESG (está na moda), todo o País tem os olhos votados para eles. São os que mais aparecem nas colunas sociais e políticas. A vida deles é muito estressante. Sem falar no fato de que a burguesia dos grandes centros brasileiros recebe a culpa de todas as mazelas nacionais, mesmo daquelas das quais ela não tem culpa nenhuma.

Quero nascer rico num estado periférico e “pobre” do Brasil. Não citarei nomes, mas todos sabem quais são eles. É muito mais agradável e bem menos complicado ser rico nesses lugares.

Imaginem só: além de todas as benesses da riqueza e do poder, inclusive o acesso aos melhores cargos, eletivos ou não, os ricos e poderosos dos estados “pobres” não precisam preocupar-se com tomar decisões de impacto nacional, além de que sempre podem pôr a culpa da miséria, do atraso e do subdesenvolvimento local na ingerência do Governo Federal e na exploração por parte da burguesia de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal… e até dos falidos Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Coitado do Espírito Santo, que por ser do Sudeste é levado de roldão também.

Não importa se as famílias ricas desses lugares "pobres" se alternam, há várias gerações, no governo das “províncias”; nunca é delas a culpa do péssimo transporte coletivo, da saúde precária e do esgoto que corre a céu aberto pelas ruas, lançado de casas ricas ou pobres. E, sempre que é convocado, o nacionalismo regional, também conhecido como bairrismo, garante o apoio do povão local à sua classe dirigente contra os exploradores de fora, de modo que qualquer favelado de São Paulo ou Rio de Janeiro se torna coopressor do resto do Brasil.

Por isso já decidi. Anote aí, produção: na próxima encarnação quero nascer na família Barulho, ou Sou Rei, ou Raposão, Já Esteve, Cheiros, Cavalo Canta, Tua Prima, Mexilhões, Viola, Nojeira, Matinho, Vintém, Cágado, Comes, Tu Que Sabes, Palheiros, Mamais, Obscena, Camarão, Vitela, Borrega, Farinha, Deslumbre… São muitas as opções, e deixo à produção a escolha. Não tenho objeção a nenhum estado. Seja qual for, será uma delícia.

Nada como nascer já destinado a ser governador, senador, deputado ou, no mínimo, prefeito de uma capital, ainda que seja num rincão distante do Brasil…

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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

FUVEST

Em certo estado brasileiro, o governo estadual recepcionou festivamente em palácio e felicitou estudantes dali que foram aprovados no vestibular da Universidade de São Paulo (USP), que é instituição estadual, não federal. (Guardem esta informação.)

Enquanto isso, universidades (inclusive federais) de vários estados instituem normas para dificultar a aprovação de estudantes de outros estados em seus vestibulares.

Que desfaçatez!

Em meu curso eu tive colegas de vários estados. Lembro-me de um colega acriano que contou sua epopeia de uma semana de viagem de ônibus para fazer a habilitação e a matrícula.

Havia lá muitos alunos estrangeiros também. Conheci gente do Gabão, Angola, Costa do Marfim, Mauritânia, Paraguai, Peru, Rússia, China, Alemanha, Japão. Até uns ianques apareciam por lá às vezes — não sei por quê, já que eles se gabam de ter as melhores universidades do mundo. O que poderiam aprender lá, já que eles produzem "o conhecimento" e não têm mais onde enfiar seus prêmios Nobel? 🤔

Nunca soube que a instituição em que me formei rejeitasse alunos de onde quer que viessem.

Comprazo-me nisso.

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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Nobel da Paz... Que Paz?

Em comparação com os prêmios das demais categorias, o prêmio Nobel da Paz é bem mais fácil de ser conquistado, além de ser bem mais vantajoso.
Os demais prêmios (Física, Química, Medicina/Fisiologia, Literatura e Economia) premiam carreiras: os laureados são pessoas quase sempre de meia-idade ou mais velhas, já com carreiras consolidadas, que trabalham e pesquisam em suas áreas há muito tempo; não são pesquisadores recém-saídos da pós-graduação nem autores de primeiro romance. O mesmo se diga de prêmios literários respeitados como o Camões, o Príncipe de Astúrias...
Já o Nobel da Paz premia momentos, não carreiras. Depois de receber o "caneco", o premiado pode fazer o que quiser, pois nada do que faça riscará seu nome da história nem lhe tomará o prêmio.
Eu poderia dar aqui o exemplo de Barack Obama, que com menos de um ano de governo foi laureado com o Nobel da Paz em 2009 (por que exatamente?), tendo depois tempo de sobra para mandar bombardear aqui e acolá, continuando as ações militares dos EUA e sendo responsável por milhares de mortes.
Nem falarei do ganhador do Nobel da Paz de 1973, Henry Kissinger, político ianque e criminoso que deu apoio a vários golpes de estado, ditaduras e genocídios.
Prefiro um exemplo mais recente e ainda atual: o ganhador do Nobel da Paz de 2019 é o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, que ainda está no governo. O motivo: acordo de paz com a Eritreia, país que fez parte da Etiópia até 1991.
Agora o primeiro-ministro premiado e ex-badalado comanda as tropas federais etíopes contra rebeldes da província de Tigré, com direito a bombardeios, milhares de mortos, deslocamento de milhões de pessoas e denúncias de genocídio contra a população insurgente.
Nada como um extermínio de rebeldes para completar a "capivara" de um ganhador desse conspurcado Prêmio Nobel da Paz!